A urgente ressignificação da saúde mental

Em meio à um momento de transição em nosso modelo de atenção à saúde a necessidade de ressignificarmos os conceitos no entorno da saúde mental nunca esteve tão em evidência. Os impactos gerados pelo aceleramento causado pela pandemia estão aumentando os custos da saúde e grande parte destes são consequências dos transtornos mentais (estresse, ansiedade e depressão) agravados durante a pandemia.

Se não bastasse, no Brasil, ainda temos os impactos causados pelo boom demográfico em relação ao envelhecimento acelerado da população, os modelos de intervenções em saúde fragmentados e a situação do modelo de remuneração dos prestadores de serviços, centrado ainda no autofágico fee-for-service.

A soma destes fatores contribui para a urgente necessidade da ressignificação do tema. Muitos paradigmas precisam ser quebrados, a começar pela forma como a saúde mental é percebida, de forma míope, desintegrada do restante da saúde e ainda associada à loucura. Existe o preconceito da população que utiliza o sistema, do governo e até de grande parte dos prestadores de serviços. A saúde mental, deve estar inserida de forma integrada na de reorganização de um novo modelo de atenção onde questões mais amplas e centradas no indivíduo como um todo e em como este é percebido no mercado de trabalho e na sociedade, devem ser pautadas.  

Acreditamos que a adoção de novas abordagens, integrais e longitudinais em relação aos indivíduos e integradas, em relação aos recursos no entorno dos mesmos, seja o caminho. Considerar a saúde mental como gatilho para o desenvolvimento de outras doenças, ou mesmo provocadora de sintomas, que muitas vezes levam a diagnósticos falso positivos, encarecendo o sistema, comprometendo a efetividade e pior, gerando baixa qualidade ao tratamento, deve ser premissa para qualquer modelo de gestão.

Nesse processo de ressignificação, precisamos rever toda a cadeia dos fatores que estão no entorno dos indivíduos, seus riscos diretos e indiretos como os fatores psicossociais, ambientais, econômicos, ocupacionais e muitas outras variáveis antes de sairmos intervindo de forma fragmentada sobre os mesmos.

O momento é de mudança, não tenho dúvida. Me preocupo apenas com as avalanches de soluções que saíram das prateleiras – como uma poção mágica – no pós pandemia dizendo que “agora” irão resolver os dilemas da saúde mental, que agora as “doenças da mente” devem ser consideradas e por ai vai. Embora a mudança deva acontecer e de forma rápida, a dar as respostas que o momento exige, muita calma nessa hora, é o meu conselho.

O que necessitamos é de uma verdadeira ressignificação quanto ao tema e não de produtos de prateleira.

Por Luiz Coelho

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